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A vacina contra a gripe pode proteger seu coração; entenda
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Saúde

A vacina contra a gripe pode proteger seu coração; entenda

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Cardiologistas recomendam fortemente a vacinação de pacientes com doenças cardiovasculares; estudos têm indicado que a população em geral também pode se beneficiar.
A maioria das pessoas sabe que a vacina para o vírus influenza protege contra a gripe – doença que pode causar hospitalização, pneumonia e até óbito. No entanto, seus benefícios vão além disso. Um amplo conjunto de evidências científicas indica que o imunizante é capaz de reduzir o risco de eventos cardiovasculares graves, como infarto, acidente vascular cerebral (AVC) e morte cardiovascular. Por isso, a vacina é fortemente recomendada por cardiologistas – especialmente para pacientes com doenças cardíacas, os cardiopatas.
É que a gripe pode funcionar como um gatilho para eventos cardiovasculares, e vale destacar que esse risco não se restringe apenas a quem já tem uma doença cardíaca. Alguns estudos sugerem inclusive que a vacinação contra o vírus influenza pode trazer benefícios cardíacos também para a população em geral. Só que mais pesquisas são necessárias antes que esse efeito passe a ser um objetivo explícito das campanhas públicas de vacinação.
No Brasil, o imunizante é recomendado para pessoas com mais de 6 meses de idade, em um esquema anual, em geral de uma única dose. No final de janeiro, o Ministério da Saúde anunciou que a vacina agora ficará disponível durante o ano todo, e não só durante campanhas, para os grupos prioritários, que incluem, por exemplo, pacientes com diabetes e obesidade — considerados de risco cardiovascular.
“Há estudos mostrando que, durante o período de maior circulação do vírus influenza ou após a infecção, você tem uma janela de oportunidade para eventos cardiovasculares”, comenta Henrique Fonseca, pesquisador da Academic Research Organization (ARO) do Hospital Israelita Albert Einstein.
“(Logo) Se eu reduzir a chance do vírus influenza gerar algum problema durante a infecção, diminuo a chance de um evento (cardiovascular)”, completa.
Uma meta-análise – um tipo pesquisa que avalia resultados de vários estudos sobre um mesmo tema e é considerada o padrão-ouro das evidências científicas – envolvendo apenas pacientes com alto risco cardiovascular mostrou que a vacinação contra a gripe reduziu em 26% o risco de eventos cardiovasculares graves; em 37% de morte cardiovascular; e em 28% de morte em geral. Os resultados foram publicados na revista científica European Journal of Heart Failure.
Um outro estudo, que incluiu mais de 4 milhões de pacientes canadenses e foi publicado na respeitada The Lancet Public Health, apontou que a vacinação contra a gripe reduziu entre 8,5% a 25,8% o risco de AVC — a depender do subtipo. Nessa pesquisa, foi avaliado o status vacinal de um grupo mais amplo de pacientes, então nem todo mundo apresentava eventos cardiovasculares anteriores ou fatores de risco.
Embora seja um grande estudo, publicado numa revista científica muito importante, o cardiologista Álvaro Avezum, que faz parte da Sociedade Brasileira de Cardiologia e é coordenador do Centro Internacional de Pesquisa do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, destaca que precisamos ter cuidado ao ler os resultados.
Ele explica que o trabalho permite dizer que os pesquisadores encontraram uma associação entre a vacinação e o menor risco de AVC, mas não estabelece uma relação de causa e efeito. Para isso, seria necessário distribuir voluntários em dois grupos, sendo que um receberia a vacina e o outro, não — como os estudos analisados na meta-análise publicada na revista científica europeia. Nesse sentido, diz, para cravar o martelo, precisamos de mais pesquisas. De qualquer maneira, até agora, dá para dizer que as evidências são animadoras.
Por que a gripe faz mal ao coração?
Atualmente, as pessoas morrem mais de problemas do coração no frio do que no calor – embora as mudanças climáticas devam modificar esse cenário. Isso ocorre porque as temperaturas mais baixas levam à vasoconstrição (ou seja, o estreitamento dos vasos sanguíneos), que aumenta a pressão arterial e pode sobrecarregar o coração. Mas há outro fator em jogo: é exatamente nesse período em que há mais circulação de vírus respiratórios, incluindo o da gripe.
Ocorre que, como Fonseca destaca, após a infecção há uma janela de risco para problemas cardiovasculares, que, segundo ele, dura por volta de 15 a 20 dias. Mas, afinal, como a gripe pode prejudicar o coração?
Existem algumas hipóteses que nos ajudam a entender essa relação.
Uma das grandes preocupações dos especialistas é a possibilidade de ruptura de uma placa de aterosclerose. Ao longo do tempo, várias substâncias — em especial gorduras, mas também células inflamatórias — se acumulam nas artérias de alguns pacientes e podem causar uma série de graves problemas.
Quando o organismo é infectado por um vírus, a resposta do sistema imunológico ocorre de forma sistêmica, isto é, afeta todo o corpo. “A infecção é como se fosse um grande cavalo de Tróia. Ela hiperativa todo o seu exército imunológico. Ela não atua diretamente só no vírus, vai hiperativar outras vias”, descreve Fonseca.
Como as placas possuem um componente inflamatório — uma vez que contêm células do sistema imune —, a ativação delas leva a uma desestabilização. “Os ‘exércitos’ que estavam ali dentro querem sair, pois também foram chamados, hiperativados.”
Se a placa se rompe, seu conteúdo pode ser liberado na corrente sanguínea. Caso fragmentos obstruam um vaso, o fluxo sanguíneo pode ser parcial ou totalmente interrompido, resultando em isquemia. Dependendo da localização da obstrução, isso pode levar a um infarto agudo do miocárdio ou a um AVC.
Não para por aí. “Tendo placa ou não, a infecção pode promover trombose dentro das artérias”, adiciona Avezum. Isso ocorre porque a infecção provoca uma disfunção da parede interna da artéria. “(A parede) Fica disfuncional, reage mal e provoca formação de coágulos.” Eles, por sua vez, podem levar à obstrução.
Ainda, em resposta à infecção, pode ocorrer aumento da temperatura corporal, o que os especialistas chamam de febre. Isso promove a elevação da frequência cardíaca (número de batimentos por minuto), que é “outro gatilho para um infarto”, segundo Avezum.
Mais raro, mas definitivamente preocupante, é quando o vírus consegue invadir as células do coração, levando a uma miocardite viral. “O vírus penetra no músculo cardíaco e causa a inflamação direta no órgão”, afirma Marcelo Franken, cardiologista do Einstein.
“Essa inflamação do coração é perigosa, porque pode causar insuficiência cardíaca e arritmias graves.”
Ao prevenir a infecção ou fazer com que ela seja mais branda, a vacina ajuda a proteger a saúde cardiovascular dos danos da gripe, explicam os especialistas. É claro que, assim como qualquer medicamento — inclusive outros amplamente utilizados para prevenir eventos cardiovasculares graves, como a aspirina —, o imunizante pode ter efeitos colaterais.
De acordo com a Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), manifestações locais, como dor, vermelhidão e endurecimento, ocorrem em 15% a 20% dos vacinados — esses sintomas costumam ser leves e desaparecer em até 48 horas. Já reações sistêmicas, em geral benignas e breves, tais quais febre, mal-estar e dor muscular, acometem de 1% a 2% dos imunizados. Reações anafiláticas (resposta alérgica grave) são raríssimas.
O que conta, sobretudo para saúde pública, é a relação entre risco e benefício, que é constantemente avaliada por um grande sistema de vigilância. No caso da vacina contra a gripe, os médicos enfatizam que os benefícios superam em muito os riscos.
Estudo brasileiro
Estudos apontam que pacientes com doenças cardiovasculares têm uma resposta imune humoral menor à vacina do que a população geral. Em outras palavras, isso significa que eles têm uma resposta mais “fraca” — embora muito importante e protetiva — do que indivíduos que não convivem com esses quadros.
Cientes disso, Fonseca e outros pesquisadores do Einstein resolveram conduzir um estudo para saber se uma estratégia de vacinação contra influenza em dose dupla durante a hospitalização por uma síndrome coronariana aguda (que inclui infarto e angina instável) em comparação com a vacinação padrão reduziria ainda mais o risco de eventos cardiovasculares.
O estudo incluiu 1.801 pacientes com idade igual ou superior a 18 anos, que foram recrutados entre 2019 e 2020 e acompanhados durante 12 meses. Os resultados foram publicados na revista científica European Heart Journal. Um grupo recebeu a dose padrão e outro, a dupla.
A dose dupla não proporcionou uma proteção maior. Contudo, a pesquisa trouxe outros achados importantes. Mesmo numa dose dobrada, o imunizante se mostrou seguro. Os participantes relataram reações no local da injeção semelhantes às daqueles que receberam a dose padrão, e “não houve diferença nas reações sistêmicas autorrelatadas ou eventos adversos relatados pelo investigador”.
Outro avanço, segundo Fonseca, foi demonstrar que, caso o indivíduo que teve o evento cardiovascular ainda não tenha sido vacinado contra a gripe, é possível e seguro fazer isso durante a fase hospitalar. “Então, aquele paciente de muito alto risco, que acabou de ter um AVC ou infarto, já sai do hospital vacinado. Ele não precisa ir até uma unidade básica de saúde depois. Você não perde a janela de oportunidade de vaciná-lo.”
“As vacinas como um todo foram uma das maiores invenções que o ser humano proporcionou até hoje na sua história. Simplesmente otimiza todos os sistemas biológicos do indivíduo para que ele possa combater um elemento agressor sem gastar tanta energia e se prejudicar”, reflete.
 
 
 
FONTE/CRÉDITOS: Portal News RS
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