Já imaginou se a tecnologia pudesse prever o futuro? Não estamos falando do filme de 2002 Minority Report ou qualquer roteiro de filme de distopia cyberpunk, mas sim de uma nova pesquisa que sugere que a inteligência artificial (IA) pode ser programada para prever eventos na vida das pessoas.
O estudo realizado pela University of Copenhagen (Dinamarca) e Northeastern University (Estados Unidos) revela que é possível utilizar grandes quantidades de dados sobre a vida das pessoas para treinar modelos de IA designados como “transformer models” (“modelos transformadores”, em português).
O modelo criado foi nomeado de “Life2vec” e funciona de forma semelhante ao ChatGPT, com sua capacidade de processamento de linguagem, como explica o estudo. A IA foi treinada com dados de saúde e mercado de trabalho de seis milhões de dinamarqueses.
Além do processamento de linguagem, o diferencial do modelo é sua alta capacidade de organização de dados sistematicamente, o que permite prever o que acontecerá na vida de uma pessoa.
Após seu treinamento, o modelo foi usado numa fase inicial, em que os cientistas puderam demonstrar que ele supera redes neurais avançadas, e descobriram que a IA pode prever resultados como personalidade da pessoa e até mesmo o “horário da sua morte com alta precisão”.
O que é emocionante é considerar a vida humana como uma longa sequência de eventos, semelhante à forma como uma frase numa língua consiste numa série de palavras. Este é geralmente o tipo de tarefa para a qual são usados modelos de transformadores em IA, mas em nossos experimentos, nós os usamos para analisar o que chamamos de sequências de vida, ou seja, eventos que aconteceram na vida humana.
Sune Lehmann, professor da University of Copenhagen que liderou o estudo
Horário da morte, é isso mesmo?
As previsões da Life2vec são respostas a questões gerais, como: “morte dentro de quatro anos”? Quando os pesquisadores analisam as respostas do modelo, os resultados são consistentes com as descobertas existentes nas Ciências Sociais; por exemplo: em igualdade de circunstâncias, quem ocupa uma posição de liderança ou possui rendimentos elevados, tem maior probabilidade de sobreviver.
Por outro lado, o simples fato de ser do sexo masculino está associado à maior chance de morte.
O Life2vec codifica os dados em um grande sistema de vetores, uma estrutura matemática que organiza os diferentes dados. O modelo decide onde colocar as informações sobre hora de nascimento, escolaridade, educação, salário, moradia e saúde.
Usamos o modelo para abordar a questão fundamental: até que ponto podemos prever eventos no seu futuro com base nas condições e eventos do seu passado? Cientificamente, o que é entusiasmante para nós, não é tanto a previsão em si, mas os aspectos dos dados que permitem ao modelo fornecer respostas tão precisas.
Não se pode esquecer da ética!
Os pesquisadores por trás do artigo apontam que levam em conta questões éticas, como a proteção de informações confidenciais e a privacidade. O preconceito que pode existir nos dados também é considerado.
Esses desafios devem ser compreendidos mais profundamente antes que o modelo possa ser utilizado, por exemplo, para avaliar o risco de um indivíduo contrair uma doença ou outros acontecimentos evitáveis.
"Apesar de suas funcionalidades, o serviço do aplicativo não substitui a necessidade de comunicação com as autoridades policiais, operadoras de telefonia e instituições financeiras em caso de furto ou roubo." Então, o app tem pouca ou nenhuma utilidade, se promete fazer algo que terá de ser repetido de forma ordinária. Para piorar, os prazos envolvidos no app podem ser batidos pelos meios de comunicação ordinários.
O modelo abre importantes perspectivas positivas e negativas para discutir e abordar politicamente. Tecnologias semelhantes para prever eventos de vida e comportamento humano já são usadas hoje em empresas de tecnologia que, por exemplo, rastreiam nosso comportamento nas redes sociais e traçam perfis nossos com extrema precisão, usando esses perfis para prever nosso comportamento e nos influenciar. Essa discussão precisa fazer parte da conversa democrática para que possamos considerar para onde a tecnologia nos está a levar e se esse é um desenvolvimento que queremos.
Futuro do estudo
Segundo os pesquisadores, o próximo passo seria incorporar outros tipos de dados, como textos e imagens ou informações sobre nossas conexões sociais. Esse caminho abre uma nova interação entre as ciências sociais e da saúde
FONTE/CRÉDITOS: Olhar Digital
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